sábado, 16 de fevereiro de 2013

Peso Versus peso


Na rede social mais frequentada dos dias de hoje, o facebook, faço parte de um grupo composto essencialmente por mães que amamentam , defendem e promovem a amamentação. O objectivo é que a partilha de experiências permita ajudar as mães a ultrapassarem as dificuldades que vão surgindo no caminho escolhido de amamentar um filho.  Mas para além da partilha, existem também muitos desabafos. Entre eles os que mais me tocam são sempre os das mães de primeira viagem que, tão assustadas e cansadas, vêm em busca de algum alento. Mães que têm tudo para serem bem sucedidas na amamentação...tudo menos confiança. Por um lado a falta de profissionais de saúde entendidos na matéria e com sensibilidade para ajudar estas mulheres nos problemas que vão surgindo agrava o problema, por outro, a maioria das vezes a estrutura familiar não está preparada para apoiar. Pelo contrário, mina e acaba mesmo por levar ao desespero a mãe que, ao sentir-se isolada, desamparada, cansada e sem recursos acaba por se render, desistir, convencendo-se que não lhe estava destinado, umas vezes culpando o bebé que não fazia bem a pega ou que não engordava as tão requeridas 20g por dia, outras vezes culpando-se por não ter conseguido resistir às mil e uma vezes que a mãe, o marido a sogra, a vizinha, a amiga a tia lhe disseram que o bebé chorava porque tinha fome, que estava pequenino que não era gordinho como o bebé da A, B, ou C que tinha nascido na mesma altura ( sim as comparações são sempre estímulos muito positivos para as mães inseguras e já com tanto entre mãos).
Mas como podemos ajudar estas mães? Como podemos ajudá-las a conseguir a segurança necessária para levar a bom porto a amamentação? Apenas posso usar a minha própria experiência de amamentação para me guiar e penso que é uma experiência rica, pois apesar de todas as dificuldades que vivi, aqui estou de pedra e cal a amamentar 3, enquanto as minhas crias quiserem mamar.
Pensei muito na lista de conselhos que poderia dar a estas mães que possam estar a passar pelas dificuldades da amamentação e são muitas as dicas úteis que uma boa conselheira de amamentação , ou uma mãe experiente pode dar a outra, no entanto ,prefiro resumir-me a este conselho : se querem amamentar com sucesso, esqueçam a obsessão pelo peso do bebé.
Parece viver-se uma verdadeira obsessão no que toca à questão do peso do bebé. O aumento do peso do bebé é tão determinante que se a progressão do peso não obedece às tais curvas(mantendo uma boa colocação nos percentis), então lá se introduz o suplemento, como se não existissem outros indicadores de saúde e bem estar do bebé além do peso. Na verdade, nos dias que correm o bebé tem que ser gordo pois se não estiver bem gordinho , ali a exibir com exuberância os “pneus Michelin”  então é porque não está bem, passa fome, está doente  e as mães que insistem em não dar o suplemento para ajudá-los a engordar e engordar e engordar, são umas irresponsáveis, uma hippies fanáticas da amamentação que põem a saúde da sua cria em risco.
A Gordura no bebé é sinal de beleza de bem estar, de boa nutrição de saúde...logo o peso é muito importante, o bebé tem que aumentar, tem que engordar. Não interessa se tudo o resto está óptimo, se cresceu, se tem um bom desenvolvimento cognitivo, porque se não engordou o esperado, se não cumpre a tabela, não está bem. Mas então segundo esta lógica, um adulto saudável, belo e de boa saúde é gordo, certo? Pois parece que não! Nos dias que correm ser belo é ser magro e todos conhecemos os riscos da obesidade, as clínicas de emagrecimento proliferam e homens e mulheres submetem-se às maiores torturas e tratamentos invasivos para serem magros.
Que lógica é esta então? Não será mais natural respeitar o ritmo de cada ser? Se um bebé engorda pouco o que é que podemos fazer? Podemos ver os outros sinais, perceber se continua a crescer , a evolução do seu desenvolvimento, olhar também para a sua herança genética e ...respirar fundo. É tão normal um bebé de percentil 5 como um de percentil 95, assim como tanto pode ser saudável uma pessoa muito magra, como pode ser igualmente saudável uma pessoa gorda. O peso de per si, isolado sem olhar e ponderar outros factores não nos diz nada.
Mães que estão neste momento a iniciar a amamentação, quero dizer-vos apenas que não vos prometo um caminho sem espinhos, mas que procurem com a máxima tranquilidade possível junto de outras mães ou de conselheiras de amamentação, ajuda para os problemas e que não se deixem tiranizar pela questão do peso, não se deixem condicionar por conselhos de profissionais de saúde ou de familiares sobre o espaçamento em horas entre mamadas, o tempo cronometrado em cada mama para que o bebé apenas beba e não chuche, é o bebé que dita a necessidade de alimento, carinho e  afecto, tenham atenção a todos os mecanismos de separação física entre mãe e bebé (alcofas, espreguiçadeiras, chuchas, biberões, bicos de silicone, a lista é grande), tudo o que é acrescentado ao processo de amamentação e à relação mãe/filho para a artificializar apenas vai comprometer uma amamentação de sucesso. Acima de tudo, olhem para o vosso bebé e deixem-se guiar pelo vosso instinto, confiem no vosso corpo, na vossa capacidade de amar, de conseguir nutrir de alimento e amor a vossa cria.
Um abraço
Xana.

8 comentários:

  1. Abraço gigante Alexandra. Já sou seguidora. O que dizes é sábio nem podia deixar de ser. Já levas contigo uma experiência de mestria que, oxalá uses aqui para partilhar sobre amamentação e tanta coisa em nome dos filhos. Em nome de um tipo de amor pelos filhos que nos torne independentes dessa histeria cultural toda em torno de certezas universais que não levam em conta que cada um de nós é Único.
    Único.
    Único em tudo.
    Às vezes, como mãe, tive de repetir para mim mesma o mantra valioso: "Ninguém sabe mais do que o meu amor."
    Às vezes (muitas) preciso de ajuda, tenho dúvidas, sinto que não sei nada.
    Nessas alturas, aprendi e sei que vives isso, e partilho contigo esta condição:
    Não podemos ter ouvidos para tanta gente, nem mesmo para tantos que nos amam... mas não percebem patavina.
    Temos de ouvir quem ecoa, quem nos faz bem, quem dá provas de saber, de nos dar as ferramentas que nos libertam para vivermos de forma cada vez mais autêntica essa coisa boa de sermos mães.
    Cada uma como é. Para cada filho como ele for.

    Abraço e toma lá mil gratidões pelo teu exemplo e força!

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  2. Concordo plenamente. Mas... eu tenho um filho que está abaixo do percentil 5, fora das curvas, por mais que queiramos acabamos sempre por ficar preocupadas. Se formos racionais, e olharmos para os outros indicadores de desenvolvimento, bem vejo que o meu filho está óptimo, mas os profissionais de saúde põem-nos em alvoroço, deixam-nos com o coração nas mãos e cheias de dúvidas...

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    1. Olá Carla Correia, Obrigada pelo teu comentário. Tenho 2 filhos abaixo de qualquer tabela de percentil , são gémeos, foram prematuros, não entram em tabela alguma,mesmo de idade corrigida e não faz mal. Amamentei em exclusivo os 2 e ainda o mais velho em simultâneo.
      O problema não está só no que dizem ou não dizem os profissionais de saúde, mas na importância e no peso que colocamos nas suas opiniões.
      Amamentar um bebé em exclusivo sem suplemento deve ser uma decisão dos pais não dos médicos, se os nosso filhos são saudáveis, têm um bom desenvolvimento cognitivo, estão nutritos , hidratados,crescem etc, qual a importãncia de se encontrarem abaixo do percentil 5?
      Para te dar um exemplo, o meu 1 filho, nasceu com um peso normal, era um bebé pequeno e perdeu bastante peso nos primeiros dias e só recuperou o peso com que nasceu passados 19 dias ( o dito normal portanto) no entanto uma das pediatras a que fui queria suplementá-lo porque ele estava no percentil 10...assim porque sim, apesar de reconhecer que ele era todo proporcional e que apresentava excelentes sinais de desenvolvimento. Não voltei lá, encontrei um pediatra que me apoiou e apoiei-me ma minha conselheira de amamentação e nas outras mães. Hoje acredito que se não tivesse encontrado um pediatra que me apoiasse na amamentação tinha continuado a amamentar em exclusivo ainda assim. Hoje sei que poucos médicos percebem de amamentação, infelizmente.
      Para te dar coragem digo-te que o meu filho, o bebé pequenino de percentil 10 que todos queriam suplementar, passados poucos meses estava no percentil,25, depois 50, e hoje está no percentil 80 de peso e quase 90 de altura...seguiu o seu ritmo, continua a não beber mais nenhum leite a não ser a mama.
      Confia em ti, o peso nada nos diz se o bebé está saudável esquece as tabelas, não é triste começarmos a nossa vida catalogados por números e viver a vida toda assim?

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  3. Minha amiga...só te tenho a agradecer a grande ajuda que me deste quando o Mike nasceu;) foste um anjo da guarda para nós;) é verdade que passei as passinhas do Algarve, como se costuma dizer, mas foi bastante difícil ao inicio, mas com o apoio da mamã entendida e ignorando todas as opiniões das mães que agora são avós...tudo valeu a pena;) obrigada Xaninha pelo apoio!adoro-vos*beijinhos

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    1. Só dei uma ajuda querida amiga, o mérito é todo teu, o teu sucesso na amamentação veio da tua vontade , da tua força, do acreditar que era o melhor para o Mike ;)
      Digo sempre uma coisa que choca muitas mãe, mas aqui vai: para amamentar só é preciso querer, e tu quiseste muito .
      um grande beijo.

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  4. Olá, começei há pouco tempo a seguir este blog e já falo dele em conversas com a cara-metade, e com amigos.
    A questão da amamentação é uma entre muitas. A mulher deixou de ouvir o seu corpo, e esqueceu-se que a grande Mãe-Natureza continua a ter uma forte ligação conosco, desde a gestação, ao parto, à amamentação. Atualmente temos ao nosso dispor tantas técnicas, tantos conhecimentos, e a pressão para optar por uma cesariana, por exemplo, é enorme. E lá está, quem deveria apoiar e aconselhar, os médicos em quem tanto confiamos, são por vezes os que menos recomendam parto natural. Apesar de todos os benefícios provados e comprovados, apesar de se saber que a epidural não é assim tão isenta de complicações ou efeitos secundários, muitos deles, duradouros... Se os animais mamíferos sabem instintivamente que mal a cria nasce, precisa de ser amamentada, porque é que o bicho humano acha que o melhor leite é o que vem num biberão? O mais preocupante é que muitas vezes estes conselhos vêm de quem menos esperariamos: as mulheres que nos rodeiam. Talvez porque elas também, no seu tempo, foram desacreditadas...
    Eu fui mãe há 14 meses, e desde sempre o amamentei. Ele nunca pegou num biberão, sempre gostou mais da embalagem original :-) , e sinceramente não me importei. Começei por introduzir a sopinha, e a fruta, e ainda agora são das refeições que não dispensa.
    É muito desgastante, e requer paciência, descanso e muito, muito amor. Mas é no início, até mãe e filho ficarem em "sintonia", e terem o seu ritmo. Algures, no percurso, cheguei a ouvir "se calhar é o leite" - isto porque o meu filho, de noite, mamava por vezes em intervalos de 1h30, e quem já passou por isso sabe q é para não pregarmos olho a noite toda! - mas como eu fiquei um pouco roxa/ azul/ amarela-às-pintas-quase-vermelha-de-raiva, ninguém voltou a sequer sustirar essa dúvida.
    Desejo a todas as que estão para ser mamãs as maiores felicidades, não estão sozinhas e felizmente a net tem a vantagem de disponibilizar muita informação. Para além disso, há sempre mamãs disponíveis para ajudar, com conselhos ou melhor, com as suas próprias experiências.
    A si, Alexandra, obrigada pelas palavras e pela partilha. Foi por ter cruzado em blogs como o seu, que tomei as decisões que tomei, informada e consciente de que era o melhor que podia fazer por mim, e acima de tudo, pelo meu grande amor, o meu príncipe.
    Desejo as maiores felicidades para si e para os seus meninos (pelo que li, é a rainha do castelo :-) )
    Lemo-nos por aí

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  5. Topas e Tupilde, obrigada pelo seu comentário, que mais mães possam vestir-se de confiança em si, nos seus corpos e deixar-se guiar pelo que é natural, não esquecendo que o mais importante é o respeito pelo ritmo biológico de cada ser, independentemente das pressões.
    Que possamos todos ( mães e pais) voltar a cuidar dos nossos filhos com respeito pelos seus corpos, pelos seus ritmos.
    Muito obrigada
    um grande abraço e muitas felicidades.
    Xana.

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