sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Para onde vão as escolas?


O que é a escola de hoje? O que é que esta verdadeiramente ensina aos nossos filhos? Que espécie de guardiões do amanhã serão? Que modelo desejamos construir a longo-prazo para a nossa sociedade?
Que questões levantar agora que se inicia mais um ano lectivo, mais uma vez envolto em grande polémica devido às medidas do governo relativamente aos professores, ao desinvestimento na rede pública de escolas, ao cheque-ensino, etc. Ocorrem nos dias de hoje mudanças de paradigma, a meu ver, assustadoras e que apenas confirmam a pior das minhas espectativas: se algo funcionava mal no sistema de ensino do nosso país, certamente não será confinando-o a uma lógica de poupança cega e segregação social e territorial que se alcançará o tão esperado salto para algo melhor. E diferenças à parte (espero eu) todos lutamos para que os nossos filhos vivam melhor do que nós e a escola é, desde há algumas gerações, o centro de todas as discussões no que diz respeito à educação dos nossos filhos.

 Ninguém equaciona hoje viver sem uma escola, tal como ela nos é apresentada. Uma escola é um conjunto de standards, um produto refinado que, ao final de cada ano lectivo, coloca (ou não) um selo de qualidade nos nossos filhos, assegurando-nos a nós (pais) que eles cumprem os requisitos exigidos para uma criança com X anos de idade. A escola, no conteúdo e na forma, parametriza pela mesma bitola todas as nossas crianças - 

Muitos de nós responderiam de imediato: “Concerteza que sim! É a única maneira de avaliar, de testar os nossos filhos face às adversidades e poder compará-los. Os nossos filhos têm que se preparar para a vida dura que vão encontrar na idade adulta!” - gostaria de sugerir o vídeo apresentado por Ken Robinson, que contextualiza de forma muito inteligente o lugar da escola nos dias que vivemos e a necessidade de um novo paradigma (http://vimeo.com/17439081).
Já alguém se perguntou como é possível nivelar pelos mesmos parâmetros aquilo que raramente ou nunca é comparável? Podemos concluir sem grandes dificuldades que crianças às quais são dadas equivalentes condições familiares, sejam elas de natureza emocional, social ou económica, irão necessariamente desenvolver-se de forma diferente no tempo e aprofundarão conhecimentos diferentes conforme os seus interesses e necessidades. Se fizermos o mesmo raciocínio pensando em crianças com condições muito diferentes a todos os níveis, ninguém terá dúvidas em afirmar que certamente ocorrerão grandes diferenças no seu desenvolvimento, a todos os níveis: emocionais, sociais, etc.

Como resolvem as escolas este problema? Como lida o nosso sistema único com a diversidade? Onde está a democracia do sistema escolar que ajude, encaminhe e se adapte a um mosaico complexo de realidades familiares? Onde está a igualdade de oportunidades no acesso ao ensino e o seu carácter universal?

Mas conseguem as crianças aprender os conteúdos que lhes são dados? Na grande maioria dos casos, sim. A minha questão é que consoante os contextos, possa suceder que as crianças cujo contexto seja mais facilitador (com famílias mais coesas, com recursos, com estabilidade emocional) estejam a aprender mais conteúdos fora da escola, pelos seus próprios meios, do que propriamente nas aulas. Na verdade, a escola aparece para as avaliar, não para ensinar. Muitas destas crianças nunca precisaram da escola para aprender. Já as que necessitam verdadeiramente de ajuda por parte das escolas, caem num sistema que as oblitera pois o seu comportamento e as dificuldades que trazem para o ambiente escolar, são condições prévias à escola, colocando-as num patamar muito diferente. Nunca preenchem o parâmetro que o sistema espera delas. A escola, nestes contextos, agrava e exclui miúdos que já entram no sistema numa posição muito frágil.
Também sabemos, muito claramente, que as crianças não precisam que as escolas as ensinem a aprender: elas estão a aprender desde que nasceram, por elas próprias. Todas as capacidades motoras, de linguagem, de interacção social, ou seja tudo o que é aprendido naturalmente antes dos 6 anos de idade, não precisou da actuação da escola para que a criança consiga aprender. A curiosidade humana é mais do que suficiente para tal. Pelo contrário, a escola passa a controlar, a partir dos 6 anos, a maneira como as crianças aprendem, como se comportam e como comunicam de uma forma tão avassaladora que temo que seja a escola a criar a dependência para a aprendizagem nas crianças que recebe. É uma escola doutrinadora, de controlo, de submissão e catalogação dos seres humanos que são as nossas crianças, pelas suas características e por uma avaliação quantitativa obtusa e enviesada das suas verdadeiras capacidades.

Assumindo o risco de uma posição assim tão radical face ao papel da escola na educação dos nossos filhos (e assumindo que a educação é algo que transcende profundamente o âmbito da escola) pretendo questionar tudo o que hoje se discute e o que se passa no que diz respeito ao ensino em Portugal, pois não encontro resposta que me satisfaça naquilo que existe à disposição dos meus meninos e quanto mais me informo, quanto mais leio, mais aumenta a minha insatisfação. Perante isto, vamos tomando nas nossas mãos a questão do ensino, enquanto funcionar para todos e for consensual. Mas há que alertar, falar, tentar mudar alguma coisa.
 Quem me dera que a escola de todos nós, uma escola pública e universal, democrática e libertadora, surgisse para que todos pudéssemos usufruir dela e, em conjunto com as comunidade em que se inserem, contribuíssem para algo melhor do que o que temos hoje.

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