O que é a escola de hoje? O que é que esta verdadeiramente
ensina aos nossos filhos? Que espécie de guardiões do amanhã serão? Que modelo
desejamos construir a longo-prazo para a nossa sociedade?
Que questões levantar agora que se inicia mais um ano
lectivo, mais uma vez envolto em grande polémica devido às medidas do governo
relativamente aos professores, ao desinvestimento na rede pública de escolas,
ao cheque-ensino, etc. Ocorrem nos dias de hoje mudanças de paradigma, a meu
ver, assustadoras e que apenas confirmam a pior das minhas espectativas: se
algo funcionava mal no sistema de ensino do nosso país, certamente não será
confinando-o a uma lógica de poupança cega e segregação social e territorial
que se alcançará o tão esperado salto para algo melhor. E diferenças à parte (espero
eu) todos lutamos para que os nossos filhos vivam melhor do que nós e a escola
é, desde há algumas gerações, o centro de todas as discussões no que diz respeito
à educação dos nossos filhos.
Muitos de nós responderiam de imediato: “Concerteza que sim!
É a única maneira de avaliar, de testar os nossos filhos face às adversidades e
poder compará-los. Os nossos filhos têm que se preparar para a vida dura que
vão encontrar na idade adulta!” - gostaria de sugerir o vídeo apresentado por Ken Robinson, que contextualiza de forma muito inteligente o lugar da escola nos dias que vivemos e a necessidade de um novo paradigma (http://vimeo.com/17439081).
Já alguém se perguntou como é possível
nivelar pelos mesmos parâmetros aquilo que raramente ou nunca é comparável?
Podemos concluir sem grandes dificuldades que crianças às quais são dadas
equivalentes condições familiares, sejam elas de natureza emocional, social ou
económica, irão necessariamente desenvolver-se de forma diferente no tempo e
aprofundarão conhecimentos diferentes conforme os seus interesses e
necessidades. Se fizermos o mesmo raciocínio pensando em crianças com condições
muito diferentes a todos os níveis, ninguém terá dúvidas em afirmar que
certamente ocorrerão grandes diferenças no seu desenvolvimento, a todos os
níveis: emocionais, sociais, etc.
Como resolvem as escolas este problema? Como lida o nosso
sistema único com a diversidade? Onde está a democracia do sistema escolar que
ajude, encaminhe e se adapte a um mosaico complexo de realidades familiares? Onde
está a igualdade de oportunidades no acesso ao ensino e o seu carácter
universal?
Mas conseguem as crianças aprender os conteúdos que lhes são
dados? Na grande maioria dos casos, sim. A minha questão é que consoante os
contextos, possa suceder que as crianças cujo contexto seja mais facilitador
(com famílias mais coesas, com recursos, com estabilidade emocional) estejam a
aprender mais conteúdos fora da escola, pelos seus próprios meios, do que
propriamente nas aulas. Na verdade, a escola aparece para as avaliar, não para
ensinar. Muitas destas crianças nunca precisaram da escola para aprender. Já as
que necessitam verdadeiramente de ajuda por parte das escolas, caem num sistema
que as oblitera pois o seu comportamento e as dificuldades que trazem para o
ambiente escolar, são condições prévias à escola, colocando-as num patamar
muito diferente. Nunca preenchem o parâmetro que o sistema espera delas. A
escola, nestes contextos, agrava e exclui miúdos que já entram no sistema numa
posição muito frágil.
Também sabemos, muito claramente, que as crianças não
precisam que as escolas as ensinem a aprender: elas estão a aprender desde que
nasceram, por elas próprias. Todas as capacidades motoras, de linguagem, de
interacção social, ou seja tudo o que é aprendido naturalmente antes dos 6 anos
de idade, não precisou da actuação da escola para que a criança consiga
aprender. A curiosidade humana é mais do que suficiente para tal. Pelo
contrário, a escola passa a controlar, a partir dos 6 anos, a maneira como as
crianças aprendem, como se comportam e como comunicam de uma forma tão
avassaladora que temo que seja a escola a criar a dependência para a
aprendizagem nas crianças que recebe. É uma escola doutrinadora, de controlo,
de submissão e catalogação dos seres humanos que são as nossas crianças, pelas
suas características e por uma avaliação quantitativa obtusa e enviesada das suas
verdadeiras capacidades.
Sugiro também a leitura do seguinte artigo (http://www.alternet.org/education/school-prison-and-damaging-our-kids?akid=10899.259134.yQhhA2&rd=1&src=newsletter893052&t=13&paging=off
)
Assumindo o risco de uma posição assim tão radical face ao
papel da escola na educação dos nossos filhos (e assumindo que a educação é algo
que transcende profundamente o âmbito da escola) pretendo
questionar tudo o que hoje se discute e o que se passa no que diz respeito ao
ensino em Portugal, pois não encontro resposta que me satisfaça naquilo que
existe à disposição dos meus meninos e quanto mais me informo, quanto mais
leio, mais aumenta a minha insatisfação. Perante isto, vamos tomando nas nossas mãos a questão do ensino, enquanto funcionar para todos e for consensual. Mas há que alertar, falar, tentar mudar alguma coisa.
Quem me dera que a escola de todos
nós, uma escola pública e universal, democrática e libertadora, surgisse para
que todos pudéssemos usufruir dela e, em conjunto com as comunidade em que se
inserem, contribuíssem para algo melhor do que o que temos hoje.
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